NO DECK, A CÉU ABERTO

Com o passar da noite o calor aumentou e subimos todos para o deck, num ambiente a céu aberto. O barulho das ondas quebrando na praia, o céu forrado de estrelas, e uma batida tecno chegando dos quiosques, passaram a configurar o novo ambiente. Roberta já havia bebido bastante, começou a gostar da brincadeira, e tirou logo a próxima carta.
“Depois das fotos e do sumiço da misteriosa personagem, Thomas segue para o apartamento de Fernanda…â€
“Eu outra vezâ€, resmungou Fernanda ainda de pé, com os cotovelos apoiados apoiados na parede.
“É por mérito seu, você é a protagonista ao lado de Thomas, faz por merecerâ€.
“Vamos pular essa, Roberta, na boa.â€
“Você sabe que eu também não gostaria de falar sobre essa carta? Ensaio. Artaud. Porta espelhada. Eu gosto mais de conversar sobre textos com realidade palpável, exata, indiscutÃvel. Esse é pura ficção mesmo.â€
“Você não devia ter tanta certeza assim, Robertaâ€, diz em tom de deboche.
“Se é vida real então eu mudo de ideia, vamos conversar sobre elaâ€.
“Não, não, esquece, estou brincando.â€
“Tudo bem, pulamos essa carta, mas vamos pelo menos terminar a leitura do resumo para saber o que perdemos.â€
“Depois das fotos e do sumiço da misteriosa personagem, Thomas segue para o apartamento de Fernanda e sob o olhar sereno de Artaud, entre copos de conhaque, eles refazem o ensaio fotográfico feito há anos atrásâ€.
“Sério mesmo que isso não é ficção?â€
“Talvez não seja, ainda.â€
“Não! Novamente essa idiotice de produzir realidade para fazer ficção, não.â€
“Por isso eu pedi para pular essa carta.â€
Paula cutucou as duas dizendo que elas estavam falando muito baixo, parecia uma conversa particular. “Assim a nossa noitada vai virar conversa de salão de beleza.â€
“Vou tirar outra carta, então!â€
“Não, isso não vale, você aceitou a recusa, queimou a sua vez.â€